Projeto de Arquitetura: O custo da obra

Olá, pessoal! No último post, demos início a um papo onde trouxemos alguns dos itens que condicionam um projeto de arquitetura. Naquela ocasião, nos detemos a abordar com mais intensidade o quanto a vontade e gosto dos clientes deve direcionar um projeto, devendo ser respeitado e prevalecer no resultado da obra. Neste texto, trataremos de uma outra variável do projeto arquitetônico, tão influente quanto a vontade do cliente: o custo estimado da obra.

Todas as pessoas que estão planejando fazer uma obra, seja construção nova ou reforma, precisa saber um custo estimado para realização daquela vontade. É comum que clientes que não costumam construir ou reforma com frequência não tenham uma ideia precisa em relação a isso. Embora exista índices oficiais que estipulam um custo estimado de construção por região, como o CUB do Sinduscon, por exemplo, estas previsões são genéricas e por isso, não garantem tanta precisão.

O custo de uma obra pode variar muito de acordo com o local onde a obra está inserida, o tipo de estrutura que esta obra utilizará, o prazo em que ela será executada, o tamanho da equipe que nela trabalhará, assim como os acabamentos que serão utilizados para a execução da obra, como revestimentos, louças e metais sanitárias, entre outros.

Em nossos projetos, nos preocupamos em informar ao cliente, a todo momento, sobre os custos previstos pra sua obra. Desde o primeiro momento, dialogamos com construtores parceiros e passamos uma previsão inicial do custo da execução. A medida que o projeto arquitetônico caminha e vamos tendo mais informações definitivas sobre os materiais que serão utilizados na execução da obra, vamos atualizando a previsão inicial feita com os construtores e repassamos aos clientes, deixando-os cientes das possibilidades. Graças a isso, conseguimos fazer ajustes no projeto, caso o orçamento esteja extrapolando a disponibilidade do cliente.

Quando finalmente chegamos a última etapa do projeto de arquitetura, o Projeto Executivo, já temos todas as informações necessárias para que seja elaborado o orçamento definitivo daquela obra. Somente nesta etapa, o construtor consegue dar um custo de obra preciso, sem falhas, porque o Projeto Executivo detalha todas as informações necessárias para a perfeita execução da obra.

Nós, arquitetos e arquitetas, devemos assumir esse papel de orientador do cliente também no quesito custo de obra, uma vez que vivenciamos continuamente estas questões, e temos mais conhecimento que os clientes. É claro que surpresas com aumento do custo de execução prejudicarão clientes, arquitetos, construtores, todos os envolvidos. Em muitos casos, corremos o risco de não ter a obra completa, ou muitas vezes ela é desfigurada, sendo executada com adaptações prejudiciais que manterão o custo dentro da previsão do cliente.

Aqui no escritório, sempre dialogamos com os clientes para saber quais são suas prioridades de custo. Alguns clientes optam por fazer maior investimento em acabamentos de revestimento, outros em mobiliário, outros em peças de arte, cada um tem sua preferência. Cabe a nós, como arquitetos e orientadores, direcionar, junto com o cliente, os seus investimentos. Se sabemos que determinado cliente prioriza mobiliário e não se importa tanto com metais sanitários, especificaremos torneiras e duchas de boa qualidade, porém com preços intermediários, enquanto buscaremos móveis de maior requinte.

Assim, fica claro que a atividade do arquiteto extrapola a realização do projeto. Ela precisa ser complementada com essa orientação ao cliente, aumentando a possibilidade de sucesso na execução da obra, o sonho do cliente. Informar ao cliente sobre as possíveis adversidades que serão enfrentadas em todo o processo, orientá-lo para investir dinheiro onde ele mais precisa e ajudá-lo a se programar para ter uma obra saudável é essencial para que no fim do serviço tenhamos uma bela obra executada e não apenas imagens em 3d de algo que poderia ter sido.

Projeto de arquitetura: O cliente

Um tema recorrente, que gera curiosidade em algumas das pessoas que acompanham os nossos trabalhos, é como encaramos os nossos projetos. Quais as diretrizes que nos norteiam, como atendemos às vontades dos clientes aliando a boas soluções arquitetônicas e econômicas. Aqui no blog vamos tentar abordar alguns desses aspectos, buscando deixar mais claro a forma que entendemos ser o nosso jeito de projetar, deixando claro que cada arquiteto, cada escritório, vai ter a sua forma ideal de chegar nas soluções.

É possível fazer uma analogia de um projeto de arquitetura com uma equação matemática, onde teremos vários termos se combinando de formas diferentes e gerando um resultado. Nesta comparação, podemos entender os termos como as condicionantes do projeto. Como exemplo disso, podemos tomar a vontade do cliente, o objetivo da construção, o tempo hábil pra obra, o valor financeiro disponibilizado para sua execução, a mão de obra disponível, os materiais construtivos disponíveis, o local onde a obra está inserida, a época em que está sendo feita, entre tantos outros. O resultado é a obra construída, sendo bem utilizada.

Neste primeiro texto, vamos falar sobre uma das mais importantes destas variantes, a vontade cliente. É a partir do cliente que o projeto começa a tomar forma. Em geral, nossos clientes chegam com uma ideia pouco amadurecida, sem noção de custo de construção, de tempo de obra, de que área precisa construir, entre outras questões. E isso é extremamente normal considerando que ele não está acostumado a projetar e construir com frequência. É neste momento que buscamos, primeiramente, entender a sua vontade, seus desejos e suas limitações, e num segundo momento sugerir formas de realizar suas vontades de uma forma mais eficiente.

O arquiteto, por conviver diariamente com obras e projetos e ter um conhecimento mais apurado desse tipo de processo, sabe como evitar futuros problemas e tem o dever de orientar o cliente em relação a isso.

No nosso escritório, aconteceu um caso onde um casal jovem, sem filhos, solicitou um projeto para uma casa de 400m². Após a conversa para definição do briefing de necessidades do projeto, percebemos que uma casa muito menor, aproximadamente 250m², seria suficiente pra atender todas as vontades deles e fizemos a sugestão que foi aceita por eles. Neste caso, o casal não tinha muita noção de quantidade de área construída e após a nossa explanação, conseguiu ter mais segurança na solicitação de área estimada da casa. De qualquer forma, projetamos uma casa de 250m² com uma possibilidade de futura ampliação da casa já contemplada. É importante salientar que com essa diminuição de 150m² de área construída, conseguimos uma economia de obra que variou entre R$150.000 e R$225.000.

Além dessa questão da orientação em relação ao custo de obra, ao tamanho da edificação e etc, precisamos traduzir as vontades e gostos dos clientes, porque muitas vezes essas mensagens não chegam de forma clara para quem fará o seu projeto. Quando o cliente não consegue expressar com facilidade suas ideias, cabe a nós, arquitetos, conduzi-lo dando a informação necessária para que consiga transmitir suas necessidades. É nesse momento que falam que o arquiteto tem de ser um pouco psicólogo também. J

Aqui no escritório buscamos apresentar fotos de outros projetos, referências, além de conversarmos em reunião sobre gostos, cores e soluções, buscando entender melhor o seu estilo de vida e seus anseios. E essa tradução bem realizada reflete em um programa de necessidades mais eficiente que possibilitará um projeto mais assertivo, gerando ganho de tempo no projeto e uma sensação de contemplação e satisfação no cliente.

Por último, mas não menos importante, acreditamos que a vontade do cliente tem de prevalecer. O arquiteto é um tradutor das suas vontades, e essa tradução tem de ser fiel a mensagem original. O arquiteto pode ter uma linha de projeto bem definida e  mantê-la em seus projetos, aliando-a sempre com muito esmero às necessidades do cliente. Daí a importância do cliente fazer a escolha do profissional que fará o seu projeto a partir do conhecimento de suas obras, de uma afinidade estética e pessoal. Um projeto de arquitetura, e uma obra, são processos que precisam de muita parceria e afinidade. A escolha do profissional precisa ter esse tipo de atenção.

Poderíamos passar muito mais tempo falando da importância do cliente na equação do projeto de arquitetura, mas a ideia deste texto foi abordar alguns dos pontos desta relação entre clientes e arquitetos, demonstrando a importância desta relação, e sugerindo soluções que adotamos e funcionam muito bem com a gente.

Na próxima semana a gente traz mais um elemento que influencia bastante na elaboração do projeto, tentando externar os debates que acontecem aqui no escritório pra, quem sabe, obter pontos de vistas concordantes e discordantes de quem nos lê, e provocar uma boa reflexão em todos nós. Até a próxima!

Por que é um bom momento pra construir?

Certamente você tem lido muito sobre uma piora na situação econômica do país recentemente. Todos os jornais, muitas pessoas nas ruas, os preços de alguns serviços, tudo isso tem trazido uma certa áurea de precaução econômica a todo nós que vivemos no Brasil. Devido a essa situação, temos nos precavido em investir, ou até em gastar dinheiro, julgando que amanhã poderemos ter dias mais difíceis, do ponto de vista econômico, e devemos poupar nossas economias.

É evidente que está é uma postura segura e que tem um grande fator de razão. No entanto, em momentos como esse, a oferta de alguns serviços costuma ficar mais barata, além de permitir maiores opções de escolha. E o setor da construção é um desses que oferece melhores condições práticas em momentos como esse.

Para ilustrar essa ideia, podemos falar sobre a queda dos preços dos imóveis, devido à queda da procura. Com a diminuição dos preços, vemos o momento ideal para comprar terreno, apartamento, casa para reformar, etc. Devido ao menor movimento, os corretores, imobiliárias e construtoras tentam facilitar a aquisição do cliente de toda forma, oferecendo descontos e vantagens que não ocorrem em momentos de alta de mercado.

Após adquirir o seu imóvel, pensando na reforma ou construção, é hora de tirar proveito das facilidades para comprar materiais de construção. Assim como o setor de imóveis, os armazéns sentem uma forte diminuição do volume de vendas devido à retração econômica e buscam se livrar dos materiais que estão encalhados em seus depósitos, abaixando o preço e/ou facilitando as condições de pagamento.

Também temos a mesma análise quando analisamos os profissionais que prestarão serviços para sua construção ou reforma, como arquitetos, engenheiros e mão-de-obra. Estes serviços também são impactados pela crise econômica e com isso o cliente consegue obter melhores negociações em relação a preço e prazo. Uma das maiores dificuldades é encontrar mão-de-obra qualificada disponível para o seu período de obra, e nesses momentos é mais fácil encontrar os melhores profissionais com poucos serviços e, consequentemente, mais tempo disponível.

É por esses motivos que mesmo em um momento de crise econômica é possível enxergar um bom momento para construir ou reforma sua casa. Além de melhores preços e condições, você pode conseguir uma melhor equipe pra mão-de-obra, o que afeta diretamente na qualidade, e no tempo, de sua obra.

Apartamento com cara de casa

A população brasileira vive um momento de transformação do hábito de morar. Nos últimos anos, houve um aumento de 28% no número de apartamentos no país, enquanto nossa população cresceu apenas 12%. Com isso, tem sido cada vez mais comum encontrar pessoas que moram em apartamentos e sentem falta dos costumes que mantinham em casa, como receber grupos para confraternizações, ter uma horta, ou criar animais de estimação.

E essa demanda tem impactado diretamente no projeto de arquitetura, seja de apartamentos grandes ou pequenos. Atualmente há soluções de baixo custo que permitem ampliar a sala, possibilitando receber grupos maiores, ou recursos com custos medianos que permitem a criação de varanda com churrasqueira, liberando novas possibilidades aos apartamentos.

Para ilustrar esses casos, temos um projeto que desenvolvemos para um apartamento em Boa Viagem, cidade de Recife, com 160m², uma planta bem espaçosa, com uma sala de estar ampla, porém com uma varanda pequena. A ideia dos nossos clientes, um casal jovem até então sem filhos, era um espaço amplo para receber grupos de amigos. Eles queriam uma área que possibilitasse fazer churrascos, jogar videogame em grupo, assistir eventos esportivos, etc.

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Planta baixa do apartamento – Antes e Depois da reforma

Dessa forma, optamos por diminuir a sala de estar, que era muito grande, mas mantendo-a com um tamanho muito confortável (34m²) e ganhamos área para a varanda gourmet, que ficou com um total de 20m². Esta nova área ganhou um tratamento diferenciado em relação ao restante do apartamento, ficando com um ar mais despojado, com cores mais vivas, mobiliário de jardim e flexibilidade de layout, podendo atender a usos diferentes do espaço.

Varanda gourmet

Varanda gourmet Varanda gourmet-recife-boa viagemVaranda gourmet

Esse tipo de solução demonstra que com criatividade, e até com pouco dinheiro, é possível amenizar a saudade de morar em casa e facilitar a nossa adaptação aos apartamentos.

Se quiser conhecer um pouco mais sobre este projeto, temos mais informações e imagens em nosso site. Entra lá: www.elementararquitetura.com/projeto/apartamento-boa-viagem-dois

 

5 links elementares: bikes

Em tempos em que a nossa cidade é eleita a cidade com trânsito mais lento do país, é preciso matéria no jornal para confirmar o que já sentimos no dia a dia. Cidades, que já estão com vias esgotadas,  sofrem por planejamento urbano que peca por menosprezar um correto investimento em transporte público.

O uso da bicicleta como transporte diário não é de hoje. Alguns acham que é moda, que dar lugar para ciclovias é um absurdo, fechar o centro da cidade para carros é utopia. Na verdade, a bike se mostra um meio de se locomover sustentável, mais econômico e muitas vezes mais rápido do que carro ou ônibus.

Algumas cidades resolveram buscar alternativas para melhorar o caos do transporte urbano e viver uma vida mais saudável.

01 - Milão - Itália

1. 7 cidades pelo mundo que aceitaram o desafio de se livrar dos carros.

02 - Lisboa

2. Uma proposta de rede de ciclovias planas para Lisboa.

03 - Hvar - Croácia

3. Já que não dá pra andar bem por aqui, vamos por lá.

04 - cidades brasileiras

4. Cidades brasileiras que mostram que é possível.

05 - ameciclo

5. Pra ficar de olho no movimento de transformações das cidades, através da bicicleta.

Projeto Elementar: O Mundo Lá de Casa

Algumas viagens pelo mundo, um dom para cozinhar, um apartamento espaçoso e uma grande ideia. Esses foram os ingredientes para o surgimento d’O Mundo Lá de Casa, que está comemorando um ano hoje. Um cantinho aconchegante que uma vez por semana abre para receber amigos e interessados em provar as experiências gastronômicas elaboradas por dois chefes.

Esse projeto surgiu com a proposta de usar toda a sala de 18m² e parte da cozinha como um espaço para receber pessoas. O desafio foi transformar este espaço em comedoria, sem perder a atmosfera e aconchego de casa, principal função do apartamento. Para isso, utilizamos diversos objetos que as clientes já possuíam, como peças decorativas trazidas de viagens, trazendo um ar intimista e identidade ao local, remetendo a lembranças de cada lugar visitado.

O Mundo Lá de Casa - Antes e Depois

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O Mundo Lá de Casa - Pallets

Para a sala, principal área de acolhimento, distribuímos de forma flexível as mesas em mdf com padrão branco, para que permitisse uma boa variedade de layout e passamos a dispor de 16 lugares. Ainda nesta sala, projetamos um grande banco de madeira em forma de “L” e utilizamos estofado em tom avermelhado com algumas almofadas estampadas, quebrando o tom forte da cor. Todas as cadeiras são de madeira e foram reaproveitadas e pintadas em cores diferentes (azul, amarelo, vermelho e no tom natural), trazendo um despojamento e alegria que se encaixaram bem com a proposta do lugar. Mais próximo à cozinha, reaproveitamos uma mesa de madeira, pertencente às proprietárias, e criamos um cantinho mais reservado, com capacidade para 06 pessoas. Ainda nesta área mais reservada, projetamos uma estante/divisória vazada em madeira como estratégia para a divisão da área de trabalho e a área de receber. Este móvel ainda permite a ventilação e iluminação natural e pode ser decorado com vários objetos e livros, trazendo uma ótima combinação com a composição de porta-retratos na parede verde. Na cozinha, abaixo do balcão, o móvel existente recebeu pintura nova e acima dele foi colocado um painel de vidro com aplicação de adesivo com estampa de azulejos antigos, para compor o cenário da área de produção.

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Ainda com a proposta de reaproveitar objetos das proprietárias, utilizamos na sala grades de pallets como painéis para dispor as garrafas vazias de cerveja, presas com braçadeiras, que passaram a funcionar como vasos pra flores. Próximo a esses pallets, dispomos diversas lembranças de viagens e outros objetos de decoração. Com a ideia de trazer mais identidade ao espaço, pintamos duas paredes com tinta para quadro negro possibilitando a cada semana novos rabiscos, assim como a divulgação do menu do dia. Em uma dessas paredes há um painel em tons amadeirados, criando uma moldura para as ilustrações, enquanto na outra, um espaço reservado para a exposição de instrumentos musicais e apresentação pra quem quiser tocar um sonzinho bacana.

O Mundo Lá de Casa - Painel

Por fim, buscamos criar uma iluminação aconchegante e intimista nos ambientes através do uso de trilhos com spots direcionáveis, garantindo uma iluminação indireta e dimerizável na sala, junto com um conjunto de garrafas que funcionam como luminária.  Já na mesa da cozinha, utilizamos uma luminária artesanal que estava guardada e combinou com o ar descontraído do projeto.

O Mundo Lá de Casa - Mesa

 

 

O Homem Carro

 

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Eduardo tinha um sonho. Comprar um carro! Podia ser qualquer um. Ele só não queria mais andar de ônibus e metrô. Sentia-se mal dividindo o mesmo espaço com pessoas, segundo ele, mal educadas, mal encaradas, fedorentas e que ouviam músicas ruins no celular sem fone de ouvido. Um dia ele conseguiu. Juntou as economias e comprou um seminovo qualquer. Eduardo passou a ir para todos os cantos com seu carro. Para o trabalho, academia, padaria, locadora. Viraram inseparáveis. O zelo de Eduardo era tamanho que, com o passar do tempo, ele passou a proibir as pessoas de entrarem no carro. Começou com os amigos, passou pela namorada e culminou com o dia em que ele socorreu sua mãe acidentada, de táxi porque não queria sujar o banco do carro com sangue. A partir desse ocorrido, todos começaram a perceber como Eduardo estava mudado desde a aquisição do carro. Os pais começaram a perceber que ele não dormia no seu quarto algumas noites, mas o carro não saía da garagem. Passaram semanas desconfiando onde ele estava passando essas noites até que descobriram que ele estava dormindo dentro do carro. No começo era 1 ou 2 noites por semana, mas chegou ao ponto de Eduardo não encostar mais em sua cama e passar a dormir todas as noites no carro. Até o dia que sua namorada, não aguentando mais dormir no banco de trás, colocou Eduardo contra a parede, ou contra o banco, pra ser mais preciso: “O carro ou eu!”. Foi aí que o amor prevaleceu. Ela parecia não acreditar, mas Eduardo ficou com o carro! Ela saiu cabisbaixa, com o cd player que havia dado no dia dos namorados na mão. Mal conseguiu ouvir a buzina de Eduardo pedindo para ela fechar a garagem. Quando se viu sem namorada, mas com o carro, Eduardo percebeu o que ele precisava pra ser feliz. E não teve dúvidas! Ligou para o chefe se demitindo, pegou as roupas no armário e decidiu não mais sair do carro. Nunca mais! Ali era o paraíso dele! Tantas pessoas viajam a vida toda a procura de paraísos e o dele estava ali na garagem, totalmente ao seu alcance. No começo os pais, os amigos de pelada e até o próprio chefe achavam que era brincadeira. Mas Eduardo levou a sério. Saía pela manhã, rodava a cidade inteira, enfrentando todos os trânsitos, mas com um sorriso impassível e eterno. Com os vidros fechados, ele ignorava o mundo ao seu redor. O calor, o barulho, a poeira, tudo era indiferente a Eduardo. Estava no paraíso ambulante dele! As refeições eram feitas em drive-thrus, os banhos com lenços umedecidos trazidos pelos pais, as necessidades eram feitas em recipientes ou penicos coletados, no fim do dia, pela empregada da casa dos pais. Eduardo só enfrentava algum tipo de problema quando decidia ir para lugares públicos com seu carro, como parques, praias, shoppings. Ele não se contentava em ficar nos estacionamentos. Em uma ocasião, quando cruzou por dentro de um shopping para encurtar caminho, causou pânico e correria na maioria das pessoas presentes. Mas já era possível perceber que algumas pessoas olharam aquele acontecimento com certa admiração e inveja. A partir desse ocorrido, Eduardo passou a ser conhecido na cidade como o Homem-Carro. Televisões, jornais, sites foram atrás da família dele em busca de informações sobre aquele cara diferente. Eduardo continuou sua saga sem ser afetado pelo reconhecimento que estava tendo nas ruas. Por onde ele passava havia pessoas buzinando, acenando e comemorando a chance de ver de perto o Homem-Carro. A movimentação foi tão grande que já se via lojas em shoppings e camelôs vendendo camisas com a estampa do Homem-Carro. Eduardo não percebia o que estava acontecendo porque estava sempre muito concentrado e envolvido com seu carro. Certa vez, atravessou a pista do aeroporto, de ponta a ponta, desviando de grandes aviões, felizmente sem provocar acidente. Este feito foi capa de todos os jornais da cidade e contribuiu para o, cada vez mais crescente, endeusamento do Homem-Carro. Todos ficavam esperando, e apostando, qual seria a sua nova façanha. Mas ele superava todas as expectativas. Hospitais, fóruns, boliches, igrejas, teatros, cinemas. Não havia lugares que o Homem-Carro não houvesse atravessado. Com o passar do tempo, e a crescente admiração que todos nutriam, começaram a surgir alguns seguidores de Eduardo. Cada vez mais pessoas, largavam suas vidas e começavam a viver em seus carros. Uma espécie de “automobihippies”. O trânsito foi ficando ainda pior porque as regras foram feitas para pessoas que usavam carros, e não pessoas que eram carros. Em pouco tempo os automobihippies tomaram a cidade. O Homem-Carro estava esquecido, afinal não era mais uma excentricidade. Os equipamentos públicos passaram a considerar os carros e não mais as pessoas. Houve uma revolução arquitetônica na cidade. Praticamente todos os edifícios tiveram de ser demolidos para dar espaço a outros que pudessem abrigar os automobihippies. Os cinemas, teatros e auditórios aboliram as poltronas e criaram salas cada vez maiores. Os apartamentos passaram a ter muito mais espaço para carros e menos para salas de jantar, de estar ou cozinha. A praia foi aterrada para que os automobihippies pudessem desfrutar da vista pro mar. Todos os restaurantes demitiram os garçons, músicos e entregadores, fizeram grandes reformas e passaram a ser apenas drive-thru. As praças, parques e feiras viraram grandes avenidas. Todas as árvores foram dizimadas abrindo espaço para mais carros. Alguns bairros antigos, que datavam da fundação da cidade, foram totalmente demolidos para criar novas vias e vagas. A medida que os automobihippies se multiplicavam, as pessoas que não tinham condições de comprar um carro passaram a vender suas casas para poder adquirir seu carro. Outras muitas que não tinham bens para se desfazer, acabavam por se suicidar. No auge dessa transformação urbana e social, o prefeito decidiu mudar o nome da cidade para Autocity, assim em inglês mesmo pra ficar mais moderno. Além de criar novas secretarias, como as da Fiat, da Volks e Chevrolet, entre outras. Mas chegou um dia que o Homem-Carro, antes conhecido como Eduardo, decidiu sair do carro. Antes de sair, ele pegou o caminho da casa de seus pais para reencontrá-los. Chegando no endereço não havia mais casa. Apenas carros estacionados com pessoas dormindo dentro deles. Eduardo não conseguia identificar se alguma dessas pessoas era seu pai ou mãe. Tinha de sair do carro para ver. E saiu! Abriu a porta, pôs os pés na rua e levantou-se lentamente. Olhou em volta e não viu nenhuma casa de seus antigos vizinhos. Só carros! E cada carro com uma pessoa dentro. Ele andou, com certa dificuldade, sentou na pista e chorou. Ele não tinha a mínima ideia de que havia sido o precursor dessa forma de viver a cidade. Chorou por querer a cidade, como ele lembrava, de volta. Eduardo passou a perambular pela cidade, e cada bairro que via o martirizava ainda mais. Dias e dias andando ao léu, entre carros. Eduardo era o único pedestre da cidade. Até o dia que ele não aguentou mais. Em mais uma experiência de quase atropelamento, Eduardo dessa vez não desviou. Deixou-se chocar contra aquele carro. Deitado e ensanguentado na pista, com o sol a pino queimando todo o seu corpo, sozinho, sem uma pessoa pra lhe socorrer, Eduardo se deixou morrer. Ele não sabia, mas mais uma vez estava sendo vanguarda.

Duvida dessa história? Veja isso:

 Carros na areia é moda em praia do RS

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O que é arquitetura?

O que e arquiteturaDefinir arquitetura é uma tarefa extremamente árdua. Vários mestres já expuseram suas definições e ainda assim não há, e talvez nunca haverá, uma resposta unânime. Le Corbusier, mestre da arquitetura moderna, definiu como “um jogo sábio, glorioso e magnífico de volumes sob a luz do sol”. De forma mais poética, Goethe, que não era arquiteto, disse que “arquitetura é música petrificada”. Segundo Vitrúvio, um grande arquiteto do período romano, no séc. I a.C., “a arquitetura é uma ciência, surgindo de muitas outras, e adornada com muitos e variados ensinamentos. Pela ajuda dos quais, um julgamento é formado daqueles trabalhos que são o resultado das outras artes”.

Talvez a resposta mais próxima de uma definição seja a de Lúcio Costa, que disse que “arquitetura é, antes de mais nada, construção, mas construção com intenção”. De fato, toda construção tem intenções. Abrigo é uma intenção, controlar orçamento é outra, proteção também. Mas arquitetura é uma arte! Está presente no rol das sete artes de Ricciotto Canudo. E o que une todas as artes é a capacidade de emocionar, fazer o usuário, ou observador, interagir de alguma forma com aquela obra. Então, o grande objetivo da arquitetura deve ser causar emoções, além de resolver problemas de função e custo.

No entanto, esta última conclusão não é suficiente para definir arquitetura. Paulo Mendes da Rocha, talvez o maior arquiteto brasileiro atualmente, diz que “a primeira e primordial arquitetura é a geografia.”. Assim, imaginamos que a arquitetura pode ter surgido antes do homem. Algumas cavernas, mesmo as que nunca tiveram intervenções humanas, cumprem funções de abrigo e, ao mesmo tempo, podem provocar emoções a medida que as percorremos. São dois elementos fundamentais da arquitetura, que não tiveram a intenção de acontecer. São ambientes naturais, puros.

Já um ninho de pássaro, cumpre os requisitos de função como morada, abrigo para filhotes, etc, e são criados com intenção, porém não humana. A capacidade emotiva de um ninho de pássaro talvez seja o caráter mais questionável. No entanto, talvez um belo ninho e o modo como os pássaros o habitem nos emocione mais do que muitas construções humanas. Há inúmeros edifícios que são apenas uma resposta a demandas mercadológicas e funcionais, esquecendo do caráter artístico. O que temos de arquitetura nestes edifícios que não temos no ninho de pássaros?

Talvez a grande questão não seja definir arquitetura, e sim sentí-la. Aquele objeto que funciona para atender uma determinada função para alguém, ou algo, e te provoca emoção de alguma forma cumpre o objetivo da arquitetura, independente de ter sido criado por um homem, um animal ou por condições naturais. Talvez a arquitetura não tenha sido criada pelos homens, mas sim uma cópia do que ele tinha na natureza, incrementada por sua inteligência, tornando-se adaptável para as condições individuais.

É evidente que não definiremos o que é arquitetura em um texto. Nem é essa a intenção. Apenas acreditamos que este tipo de provocação amplia os horizontes da discussão, e nos leva a enxergar novas possibilidades onde antes tínhamos uma certa definição. O simples exercício de buscar arquitetura, tentar interpretá-la, buscar paralelos entre ela e outros tipos de arte, ou ainda com elementos naturais, nos faz enxergá-la de uma forma mais próxima da gente. Experimente!

Pra comemorar o Dia Mundial da Fotografia

Guerra-Duccio-Halbe

Guerra-Duccio-Halbe

Hoje, 19 de Agosto, comemora-se o Dia Mundial da Fotografia. Pra celebrar esse dia, trazemos pro ElementarBlog alguns dos fotógrafos de arquitetura que mais admiramos.

Primeiro, o português Fernando Guerra (http://ultimasreportagens.com), fotógrafo preferido de Álvaro Siza. Guerra tem formação em arquitetura e abriu seu estúdio de fotografia há 15 anos.

Nossa segunda dica é Duccio Malagamba (http://www.ducciomalagamba.com). Italiano, com mais de 20 anos de atuação, também com formação em arquitetura, pela Universidade de Gênova.

Por último, trazemos Roland Halbe (http://rolandhalbe.eu). Baseado em Stuttgart, Halbe estudou fotografia na Itália e trabalha há quase 30 anos captando arquitetura pelo mundo.

Graças a sensibilidade deles podemos apreender um pouco da intenção de cada obra enquanto ainda não as conhecemos. Parabéns a todos os fotógrafos! Continuem sempre surpreendendo!

5 links elementares: por um ângulo diferente

Em arquitetura, e em outras tantas coisas, é imprescindível que vejamos sempre por ângulos diferentes para uma melhor compreensão. O post de hoje mostra alguns lugares que já estamos acostumados, mas por ângulos inéditos, além de mostrar uma galera que se dedica na busca por uma perspectiva diferente.

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1. Projeto reúne imagens de vários lugares do mundo vistas de cima para apreciar sua beleza.

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2. Imagens incríveis tiradas do alto de montanhas mostram o que poucos veem.

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3. Usando 6 câmeras GoPro em um suporte, criou-se uma perspectiva muito particular.

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4. Estamos acostumados a ver esses lugares mas não imaginamos o que está ao redor.

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5. Uma experiência de explorar lugares inusitados, com um quê de protesto.