SOBRE

Um casal de mulheres, muito espiritualizadas, com muita crença na energia da natureza, escolheu um terreno especial, no trecho final de um condomínio em Aldeia, limitado por uma mata nativa que circunda o lote em duas faces. A casa dos sonhos delas sempre passou pela ideia de morar próximas ao cheiro, o visual e a energia da natureza. Uma casa onde o ambiente construído e natural interajam diretamente, trazendo a energia natural pra dentro da casa. E foi assim que este presente, em forma de projeto, chegou nas nossas mãos.

O programa solicitado pelas futuras moradoras sugeria uma casa com aproximadamente 250m², três suítes no pavimento superior para o casal e dois filhos, sendo que o banheiro do casal deveria ter uma banheira, uma suíte no térreo para visitas e pessoas com dificuldade de mobilidade, área de lazer com churrasqueira, banheiro social, com chuveiro, no térreo, cozinha, área de serviço, estar, jantar e terraço.

PROJETO

Nesta terra Que toca a planta dos teus pés  Foi plantada uma semente que frutificou como lar   Nele quase não há paredes  Não há barreiras É até onde a vista alcança  O seu não-limite é a mata  O jardim e as janelas deste lar são a mata  Não é uma casa na mata, é uma casa da mata Então entre  E, mais do que nunca, sinta-se em casa  Porque você está apenas retornando.

Começamos a pensar o projeto, a partir desta condicionante, e encontramos uma dificuldade na legislação do condomínio, que só permite a construção de casas com o máximo de 210m², sendo que o pavimento térreo não pode ultrapassar a área de 146m², enquanto o pavimento superior não pode superar 64m². Essa limitação nos trouxe um problema de resolução das necessidades do projeto, pois foi solicitado que tivéssemos três suítes no pavimento superior, e a limitação de área poderia inviabilizar esta solução, além de acarretar uma dificuldade na resolução estética da aparência externa da casa, podendo criar um pavimento superior muito desproporcional em relação ao térreo.

Assim, nossa solução surge da necessidade de unir uma boa resposta para esta limitação de área do condomínio à ideia da casa conectada diretamente com a natureza, uma casa da mata. Com isso, partimos para uma solução de dois volumes dispostos perpendicularmente entre si, sendo o maior no térreo, contendo a área social (salas, cozinha, banheiro social, quarto de hóspedes) enquanto o menor volume, no pavimento superior, contém as suítes.

Com a disposição dos volumes em “L”, e em pavimentos diferentes, conseguimos garantir uma ótima ventilação para todos os cômodos, de forma que o pavimento superior, o dos quartos, não barrará o vento para o volume de área social, no térreo. Os dois volumes se abrem para o interior do lote, com esquadrias de vidro ou paredes de tijolos vazados entre si, permitindo uma total permeabilidade visual, trazendo a percepção da mata pra dentro dos ambientes.

Para o pavimento térreo, voltamos os ambientes para a mata, criando um terraço com pergolado, permitindo uma conexão da sala e cozinha com este terraço, ampliando assim a área social. Com isso, garantimos que quando estiverem conversando no sofá, fazendo as refeições ou cozinhando, as pessoas tenham a mata como pano de fundo pra estas atividades. A planta livre do térreo, sem paredes, permite termos a sala e cozinha integradas.

No pavimento superior, que tinha a maior limitação de regimento do condomínio, conseguimos viabilizar as três suítes, com uma suíte canadense que será utilizada pelos dois quartos dos filhos. Além disso, conseguimos disponibilizar um grande closet, já que será ocupado por duas mulheres, além de um banheiro com banheira e uma grande janela para a mata, aproveitando a privacidade natural. A circulação que leva para os quartos foi orientada para a frente do lote, com vedação em tijolos sobrepostos, com vazios entre eles, criando um efeito de cobogó, permitindo que ao entrar e sair dos quartos se tenha a visão da mata. Neste cobogó instalaremos uma tela de proteção bem discreta, evitando a passagem de insetos.

Embaixo do volume que abriga as suítes, dispomos uma área de lazer, com churrasqueira, mesa de refeições e redes de descanso, tudo isso também bem próximo a mata.

Para esta volumetria, a aparência externa da casa, pensamos em uma fachada contemporânea que dialogasse com elementos de casas tradicionais. Assim, optamos por utilizar um telhado inclinado, com telha canal, tesouras de madeiras, tijolos com acabamento natural expostos, tijoleiras no piso do terraço, todos estes elementos tradicionais, dando uma caráter mais rústico e aconchegante à casa. A contemporaneidade é trazida com o uso do concreto aparente, vidro e esquadrias de alumínio. Para fortalecer essa relação entre tradicional e contemporâneo, tivemos ainda a coberta inclinada apenas no volume térreo, de maior extensão, enquanto no volume do pavimento superior utilizamos laje plana, mantendo uma aparência mais limpa.

Assim, não haveria nome melhor para este projeto que não Casa da Mata. Uma casa, onde temos uma interação entre ambiente construído e ambiente natural, com o cheiro e sons da natureza invadindo a casa, onde as árvores são o pano de fundo dos ambientes, e onde as pessoas se sentirão naturalmente em casa.